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Acessibilidade

Acessibilidade é uma palavra pouco conhecida do Brasil, apesar de já ter melhorado muito ao longo dos anos. Para os deficientes auditivos a realidade não é diferente. Antes, a precariedade de medidas de interação de um deficiente auditivo era muito grande. Muitos deixavam de criar seus filhos, não frequentavam escolas, tinham complicações para assistir peças de teatro... Hoje em dia, a comunidade surda obteve grandes conquistas, mas precisa de muito mais. A inclusão dos deficientes auditivos no dia a dia é uma questão que implica todos os âmbitos: social, governamental e empresarial. A palavra chave da acessibilidade é o “reconhecimento”. Uma luta que deve ser encampada pelos movimentos sociais, universidades e pelos cursos de formação de profissionais na área da educação, que passa ainda pela necessidade de conhecimentos em libras. Afinal, esta é a língua de quem não escuta, mas quer se comunicar.

Uma conquista esta luta já rendeu. O reconhecimento, a partir da Lei 5626, de 2005, da Língua Brasileira de Sinais como língua oficial, o que faz com que a sociedade pense nessa necessidade de inclusão. Hoje, no Brasil, pouca gente sabe que existem duas línguas oficiais: a portuguesa e a língua brasileira de sinais. As pessoas têm uma enorme preocupação em saber inglês, em querer ser poliglota, mas jamais pensam em procurar aprender a outra língua do seu país, que é a língua de sinais. A sociedade dá mais importância a outras línguas e acaba esquecendo que existem pessoas deficientes que querem se comunicar e que, a qualquer momento, podem vir a esbarrar com você ou passar a fazer parte da sua vida, seja no trabalho, seja na família, de diversas formas.

Regina Célia, 45 anos, trabalha há quatro anos como recepcionista da previdência. Apesar de não ter experiência nenhuma com deficientes auditivos, ela precisa dar aquele famoso “jeitinho” para poder lidar com eles no dia a dia do seu trabalho. “Eu vejo que o deficiente sou eu, e não eles. É constrangedor você pedir para a pessoa escrever algo porque você não entende o que ele quer dizer. Apesar de a empresa não custear, eu e as meninas da recepção optamos por nos inscrevermos no curso de Libras do INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) para poder facilitar não só no nosso trabalho, mas acrescentar algo na vida dessas pessoas também”.

Mas nem todos têm esta iniciativa e o despreparo é grande. Intérprete de libras, Eliane Guerra, sai com os surdos para todo tipo de lugar e, na maioria das vezes, gosta de ver a reação das pessoas diante de da situação de não acessibilidade. Numa dessas vezes, foi levar Fernando – deficiente com surdez profunda - à UPA. Chegando lá, pediu a ele para ir na frente e pedir informação. “O segurança só faltou enfartar! Não sabia absolutamente nada. Então cheguei perto e falei que ele estava comigo e que só queria saber onde era a emergência. Eu nunca ouvi tanto graças a Deus na minha vida”, conta a intérprete, abismada com a falta de preparo. “Na triagem, eu coloquei escrito ‘deficiente auditivo’ na ficha, e a recepcionista nem sequer leu e ficou gritando o nome dele”. Ou seja, um grande descaso e falta de preparo, isso em hospitais, em bancos. É preciso chamar atenção para esse tipo de situação, porque essa é a acessibilidade que o deficiente surdo tem hoje. Nenhuma. Só existem leis para dizer que eles têm direitos, agora, se essas leis estão sendo cumpridas ou não, ninguém sabe. São poucos lugares que se interessam em fazer alguma coisa para melhorar essa triste realidade.

Para dizer que essa realidade mudou um pouco, existem leis e direitos que servem para inteirar esse deficiente ao âmbito social, porém o interesse pela língua de sinais ainda é muito pequeno. É só quando há uma necessidade ou até mesmo uma obrigação da empresa e das escolas de acolher esse sujeito. Apesar de existir leis que obrigam empresas a contarem com deficientes em seu quadro de funcionários, porém, nada muito extravagante, geralmente as contratações são feitas para cargos de serviços gerais. O que se vê é que tem muita lei, se fala muito em direito, mas a rotina do deficiente auditivo é muito sofrida, cruel. Se o deficiente for oralizado ou tem um nível de escolaridade maior, essas barreiras são quebradas, as dificuldades vão diminuindo, mas se forem principalmente os idosos ou as crianças, questão de família é muito complicado, pois nem toda família reconhece a deficiência do filho. Se olharmos para umas décadas atrás podemos ver que muita coisa foi feita, mas o fato de se tornar acessível, ainda falta muito. Está engatinhando.

Romário Tavares, 25 anos, sabe muito bem o que é matar um leão por dia buscando o se lugar ao sol. Deficiente auditivo desde os primeiros dias de vida, Romário estudou no INES, porém sofria dificuldades para frequentar a escola, além de ser distante de sua casa, sofria discriminação por não saber como se comunicar. “Como eu não tinha cartão de passe-livre, muitas vezes eu me humilhava para pedir ao motorista para me deixar então”. Quando foi para o Ensino Médio decidiu mudar de escola, a distância acabou se tornando um problema maior e, a vontade de querer se sentir “normal”, estudar juntos de outros alunos ouvintes era um sonho. Só que não foi nada fácil. “Apesar de ter intérprete, me integrar em uma classe onde todos eram ouvintes foi muito complicado, ninguém conseguia se comunicar comigo”. Esforço e dedicação para entender e ser aprovado em todas as disciplinas não faltou e logo após se formar, Romário conseguiu um bom emprego, perto de sua casa. Não pense que foi fácil. Não foi. Só que o desanimo não chegou perto. Para melhorar um pouco a comunicação no seu trabalho, começou a ensinar a alguns sinais de libras para outros ouvintes aprenderem e a facilitar a comunicação entre eles. “Seria tão bom se todos aprendessem nem que fosse um pouco de Libras, não só pela melhora de comunicação no ambiente de trabalho, mas também pelo relacionamento entre seres humanos normais. Nosso dia a dia pede essa comunicação, um simples gesto, um bom dia, como seria maravilhoso”.

Para a felicidade não só de Romário, mas também de muitos outros deficientes auditivos, existem pessoas que se colocam a disposição para aprender a língua de sinais para ajuda-los, muita das vezes, sem pedir nada em troca, apenas com um único objetivo. Se tornar útil ao próximo. Desde os dezoito anos atuando em atividades sociais, ouvindo pessoas e tentando ajuda-las Haroldo Ribeiro, buscava por algo que trouxesse outro sentido a sua vida. Depois de uma operação de tireoide, ele sentiu que realmente precisava de um propósito maior. Sendo assim, resolveu aprender Libras, o que fez se aproximar ainda mais dos surdos, principalmente um jovem que frequentava a sua igreja, ai então percebeu que seu conhecimento podia mudar a vida de alguém. Na igreja em que frequentava tinha um jovem surdo e cego que sempre estava acompanhado de sua mãe, alheio a tudo que acontecia. Foi então que Haroldo descobriu que a língua que havia aprendido servia de interação entre o rapaz e a comunidade. “Não fazemos ideia do silêncio que eles vivem. A deficiência é nossa, em não sabermos nos comunicar com os surdos”. Sua experiência é o pontapé inicial para planos futuros. Um projeto que tem uma ideia inicial: “Nós, ouvintes, aprendermos a linguagem de Libras. Em vez de trazermos os surdos para o nosso mundo, nós entrarmos no mundo deles. É uma língua que fala com o coração. Em Libras, cada palavra tem um sentimento”.

A realidade é que infelizmente não estamos preparado para a inclusão, para ser acessível. Mas como seres humanos podemos buscar de alguma forma amparar e ajuda ao próximo.'Aos poucos, lentamente, a sociedade vai se conscientizando e os portadores de deficiência auditiva ampliando suas conquistas por mais respeito e conscientização. O triunfo da acessibilidade beneficia não somente aos surdos, mas a toda a população. Acaba se tornando uma vida de mão dupla. Não é o sujeito que deve se adaptar à sociedade e sim a sociedade que precisa adaptar-se as necessidades específicas dos indivíduos.

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